segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mãe

Dantes, quando a deixava, 
As férias já no fim, 
Ela vinha à janela 
Despedir-se de mim. 

Depois, quando na estrada, 
Olhava para trás, 
Deitava-me ainda a benção 
Para que eu fosse em paz. 

Dali não se movia, 
À vidraça encostada, 
Até que eu me perdia 
Já na curva da estrada. 

Hoje, se olho, calo-me 
E baixo os olhos meus! 
Já não vem à janela 
Para dizer-me adeus! 

II 

Chove, e a chuva é fria. 
Noite! Nos montes distantes 
O Inverno principia. 
Um Inverno como dantes. 

Ao redor do lume aceso 
Todos ficamos a olhar... 
Todos não, não somos todos, 
Porque há vazio um lugar. 

Esse lugar era o dela, 
Que ninguém mais preencheu. 
Mesmo com vida, na terra, 
Era uma estrela no céu. 

Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado"


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O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa

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