quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando 
Não entre as formas já e as aparências, 
Mas vendo a face imóvel das essências, 
Entre idéias e espíritos pairando... 

Que é o mundo ante mim? fumo ondeando, 
Visões sem ser, fragmentos de existências... 
Uma névoa de enganos e impotências 
Sobre vácuo insondável rastejando... 

E d'entre a névoa e a sombra universais 
Só me chega um murmúrio, feito de ais... 
É a queixa, o profundíssimo gemido 

Das coisas, que procuram cegamente 
Na sua noite e dolorosamente 
Outra luz, outro fim só presentido... 

Antero de Quental

Sonhos de hoje



Conto os dias como quem conta seu salário de fome.
Avarento medo meu, de perder enquanto busco. Perdida entre a busca e a realidade.
Sinto fraquejar os sonhos e me ergo em busca de novos. Tento usar garras de águia mas nem sempre são tão fortes.

Quero trinta anos em três dias, quero vida acontecendo... minha urgência em sentir...

Melhor recuar e observar o vento de hoje....
Não posso mais expressar meus sentimentos hoje...
A poesia me espera...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Calor de Mãe

O ontem é passado.
E você Mãe estava aqui comigo em corpo, alma e coração.
O amanhã é mistério.
Desconheço os caminhos que passarei sem os seus cuidados de Mãe.
O hoje é uma dádiva pois depositaste tanto amor, esperança, alegria e vida em abundância em meu coração, presente plantado de tal forma que só vem de amor de Mãe.
Hoje 15/11/2010, exatamente dois anos passados que senti seu abraço que me envolvia em proteção desvelando meu ser. O som da sua voz abençoando-me na despedida última com cheiro de presença e corpo. Já embalando sorriso de saudade.
O aceno ao longe dizia adeus, e meu coração ingênuo jurava que em poucos dias estaria de volta para seus braços, meu ninho. Onde o conforto e energia que renovava minha vida, minhas esperanças.
Coração infanto, coração despreparado para perdas.  Não sabia que Deus já tinha seus planos e esqueceu de me avisar.
Nunca fui forte, nunca imaginei voltar à minha casa se não fosse para estar entre o calor exalado por minha Mãe. Afinal, para que existiria férias? Afinal , Natal é dia de Mãe, família.
Pudera eu, quisera eu. Menina pequena saber que aquele natal de 2008 ela não estaria lá...
Deus pregou uma peça, ele sabia, sim ele sabia. Pois quinze dias depois do meu abraço último eu retornaria, retornaria ao mesmo lugar de partida para tocar nas mãos frias que não me responderiam. No olhar que não me fitaria e o abraço que não teria. Cadê minha Mãe?
Minha voz gritava, eu sentia os gritos dentro de mim e ainda sinto. Gritos de dor e desespero. Mas eram gritos mudos, indignados, insuportáveis.
Eu a procurava e procuro em cada canto, tudo tinha seu cheiro, mas cadê ela?
Porque tantas pessoas, quem são essas pessoas que olham pra mim com pena? Me abraçando sabendo que estava a procura do abraço da minha Mãe. Porque povoam a cozinha dela, mexem em seus objetos... Desnorteio... Procuro em minha mente a canção do assobiar. Canção que minha mãe cantava regando suas flores, mas é embargado, não sinto, só sinto dor, só dor...
Relutei em visualizar. Sou feita do fogo e do afeto. Da ação e do amor. Eu não podia acreditar. Mãe? Cadê você?
E pela primeira vez toco mãos que fez vida, toco suas mãos agora sem calor, sem retorno. Então sinto o poder de Deus esmagando meu coração, triturando cada pedaço do meu corpo, como se n’aquele momento uma navalha cortasse o cordão umbilical que levava o meu respirar, o meu sangue e minha vida. E de tanta dor, eu não queria mais sentir, não poderia sentir. Acorda Mãe. Acorda.
Tempos de silêncio...
Mas Deus tem seus planos. Ele transforma e amadurece o coração dos que amam sem titubear.
Ele afaga nossas dores nos tornando fortes e nos oferece suporte para  enterrar nossas perdas.
E nesses dois anos Deus me presenteou com amigos, família unida, saúde e a fortaleza do meu pai, fez as flores cada dia mais belo ao meu olhar.  E na beleza da vida, na beleza das flores que revivo a vida bela que teve minha Mãe. Não teve uma vida leve, mas uma vida intensa vida  plena.
O que sinto hoje é falta, não pena. Pois sei que viveste intensamente a vida que Deus lhe deu, mesmo partindo tão cedo...30/11/2008.
Permaneço aqui. Aos olhos seus, aos olhos de Deus. Eu te honro e te amo.
Hoje, ontem e sempre.
À minha flor primeira... Metade do amor que tenho veio de ti.
Sua “nega” ... Celinha
Saudade.... só Saudade...