terça-feira, 9 de novembro de 2010

As flores da Lichia

Mãe? 
Lembra do pé de Lichia que plantaste por carinho e curiosidade para descobrir o tom e forma se suas flores e o sabor do fruto? 
Então Mãe, ele está florido... e como são belas as flores, são cachos que começam aparecendo timidamente e em poucos dias uma explosão de cores e formas tomaram conta de toda a árvore que agora está frondosa e robusta. Esta foto foi feita sobre o seu olhar de contemplação Mãe. E uma lágrima cristalizada rolou face abaixo como se regasse a felicidade de sentir sua beleza de Mãe em forma de flores de Lichia. 
As folhas da lichieira são pinadas de cor verdes-escuro. A florada inicia do final do inverno Mãe, até o começo da primavera.
E existem três tipos de flores nas lichieiras. Duas funcionalmente masculinas e uma feminina. As masculinas não possuem óvulo e as femininas são hermafroditas. A segunda variedade de flor masculina possui pistilo rudimentar e ovários não desenvolvidos. 
Os frutos da lichieira demoram de 80 a 112 dias para amadurecer, dependendo do cultivar e do clima. 
A contagem desse tempo para o amadurecimento deve ser feita a partir do momento em que ocorre a abertura das flores, quando um ou todos os seus órgãos sexuais apresenta-se maduros e inicia-se o período reprodutivo. Os cachos são de forma e tamanho variáveis podendo ser redondos, ovóides ou em forma de coração. 
Por isso Mãe, hoje eu digo que a fruta que vejo se formar diante dos meus olhos chamada Lichia é a fruta da Rainha, porque das suas mãos fizeste brotar este encantamento e me fez buscar conhecimento de sua origem e espécie, porque Deus te levaste antes que pudesse vê-la florescer. Mas neste mês que completa 2 anos de sua partida o lindo pé de Lichia se faz completamente florido.  E é um descanso para os olhos Mãe. OBRIGADA MAMÃE. Te amo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O jardim

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas, 
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes. 
Sequências de convergências e divergências, 
ordem e dispersões, transparência de estruturas, 
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas. 

Geometria que respira errante e ritmada, 
varandas verdes, direcções de primavera, 
ramos em que se regressa ao espaço azul, 
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem 
composta pelo vento em sinuosas palmas. 

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio. 
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena. 
Sou uma pequena folha na felicidade do ar. 
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis. 
É aqui, é aqui que se renova a luz. 

António Ramos Rosa

domingo, 7 de novembro de 2010

Anseios

Meu doido coração aonde vais, 
No teu imenso anseio de liberdade? 
Toma cautela com a realidade; 
Meu pobre coração olha cais! 

Deixa-te estar quietinho! Não amais 
A doce quietação da soledade? 
Tuas lindas quimeras irreais 
Não valem o prazer duma saudade! 

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!... 
Ai, vê lá bem, ó doido coração, 
Não te deslumbre o brilho do luar! 

Não estendas tuas asas para o longe... 
Deixa-te estar quietinho, triste monge, 
Na paz da tua cela, a soluçar!... 

Florbela Espanca