sábado, 6 de novembro de 2010

Ideal

Aquela, que eu adoro, não é feita 
De lírios nem de rosas purpurinas, 
Não tem as formas languidas, divinas 
Da antiga Vénus de cintura estreita... 

Não é a Circe, cuja mão suspeita 
Compõe filtros mortaes entre ruinas, 
Nem a Amazona, que se agarra ás crinas 
D'um corcel e combate satisfeita... 

A mim mesmo pergunto, e não atino 
Com o nome que dê a essa visão, 
Que ora amostra ora esconde o meu destino... 

É como uma miragem, que entrevejo, 
Ideal, que nasceu na solidão, 
Nuvem, sonho impalpável do Desejo... 

Antero de Quental

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Canção na plenitude

Canção na plenitude

Lya Luft

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

Para os amigos

De entre todos, apenas vós 
tendes direito a ver-me 
fracassar. Onde caio 
entre a vossa irónica 
doçura implacável, convosco 
partilho o pão e o espaço 
e a rapidez dos olhos 
sobre o que fica (sempre) 
para dar ou dizer. 
E de vós me levanto 
e vos levo pesando 
e ardendo até onde 
me ajudais a ser 
melhor ou talvez 
menos só. 

Vítor Matos e Sá

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

As duas flores

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


Castro Alves


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Rosas não falam...


Este dia de hoje quando tocando as flores que você plantou, tão cheias de cores e perfume era como se eu sentisse o seu perfume ao abrir seu sorriso de contentamento ao vê-las desabrochando... lágrimas de saudade MÃE... levando ao simbolismo do dia o encontro da dor com a presença de que você é minha Rainha, minha Flor primeira. Flores perfeitas que colhi hoje na sua presença imaginária e em meu coração. Sei que seu sorriso se faz(ez) presente. 
 A lembrança de minha Mãe, desperta, em mim, o desejo de abraçá-la outra vez. 
Essa vontade de rasgar o infinito para descobri-la. De retroceder no tempo e segurar a vida.

Ausência: - porque não há formas para se tocar. 
Presença: - porque se pode sentir. 
Essa lágrima cristalizada, distante e intocável. 
Essa saudade machucando o coração. 

Esta lembrança de que já foste para a eternidade.
Meu Deus!
Que ausência tão cheia de presença!
Que morte tão cheia de esperança e de vida!



Como dói Mamãe...   essas rosas não falam o que aperta em minha alma e coração...  TE AMO PARA SEMPRE...