quinta-feira, 13 de maio de 2010

A LIBERDADE

KHALIL GIBRAN

E um orador disse:
- Fala-nos da Liberdade.

E ele respondeu:

(...)

Sereis livres de fato
não quando os vossos dias
decorrerem sem cuidados
e as vossas noites sem desejos
e sem fadigas,
mas antes quando todas essas coisas
cercarem a vossa vida
e vos elevardes acima delas,
nus e libertos.

Mas como podereis estar acima
de vossos dias e de vossas noites,
se não quebrardes as cadeias
que na alvorada do vosso uso da razão
fizestes pesar
sobre a vossa hora do meio dia?
De fato, o que chamais liberdade
é a mais forte dessas cadeias,
ainda que os seus anéis
vos deslumbrem brilhando ao sol.
E tudo o que quereis afastar
para ficardes livres,
que é, senão fragmentos de vós mesmos?

(...)

E se é a inquietação que quereis expulsar,
tal inquietação foi escolhida por vós
e não tanto imposta de fora.

E se quereis dissipar o medo,
a sede desse medo é o vosso coração
e não a mão que vos assusta.

De fato, todas as coisas se movem
no mais íntimo do vosso ser,
num constante semi-abraço,
tanto as desejadas quanto as temidas,
as repugnantes e as tentadoras,
aquelas que buscais
como aquelas de que fugis.

Tais coisas movem-se dentro de vós
como luzes e sombras,
em pares estreitamente unidos.
E quando a sombra
se debilita e desaparece,
a luz que resta
torna-se sombra de uma nova luz.

E assim a vossa liberdade,
desembaraçada de estorvos,
torna-se ela própria embaraço
de uma liberdade maior.

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O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa

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