terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inocência

Vou aqui como um anjo, e carregado 
De crimes! 
Com asas de poeta voa-se no céu... 
De tudo me redimes, 
Penitência 
De ser artista! 
Nada sei, 
Nada valho, 
Nada faço, 
E abre-se em mim a força deste abraço 
Que abarca o mundo! 

Tudo amo, admiro e compreendo. 
Sou como um sol fecundo 
Que adoça e doura, tendo 
Calor apenas. 
Puro, 
Divino 
E humano como os outros meus irmãos, 
Caminho nesta ingénua confiança 
De criança 
Que faz milagres a bater as mãos. 

Miguel Torga

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa

Obrigada pela visita...